Entre altos e baixos: o leite em Mato Grosso do Sul
Data: 24/05/2017 00:00
Autor: Sindicato Rural
Produzir leite, com gestão eficiente, agregar valor à matéria prima, estimulando o lucro da propriedade, não é uma tarefa fácil em Mato Grosso do Sul. A afirmação do diretor do Sindicato Rural de Campo Grande e vice-presidente do Conselho Paritário entre Produtores e Indústrias de Leite de Mato Grosso do Sul (Conseleite), Wilson Igi, leva em consideração os custos da pecuária leiteira e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que a 10,2%, somado ao frete, dificulta a saída da produção excedente, para outros estados, gerando a desvalorização, pelo volume da oferta aos laticínios.
“Considerando o consumo per capita de Mato Grosso do Sul temos um excedente de 78 milhões de litros, sem considerar, em equivalente, a matéria prima de produtos lácteos importado de outros estados e países”, ressalta Igi. “Para nossa produção de leite sair do Estado, paga-se um ICMS muito caro, em relação aos estados vizinhos. E com os excedentes de produção que ocorrem, principalmente na época das águas, faz com que o laticínio pague muito menos por nosso leite, ficando muitas vezes abaixo do custo de produção. A conta não fecha. E isso faz cada vez mais que produtores abandonem a atividade”, pontua Igi, que abordará o tema durante o 20º Encontro Técnico do Leite, no auditório do Sindicato Rural de Campo Grande, no dia 2 de junho, entre as 7h e 17h30.
“A cadeia do leite em Mato Grosso do Sul está de marcha ré. Desde 2010 só indo para trás e isso preocupa muito”, relata o diretor do Sindicato. “O número de produtores que deixam a atividade, só não é pior porque acabam sendo substituídos por outros nos assentamentos que surgem, mas não se sustentam. Poderíamos estar melhores, com indústrias mais fortes, o que acarretaria em melhores preços, com diversificação de produtos que usam o leite como matéria prima”, reforça Igi.
Mesmo concordando com todos apontamentos do dirigente, o produtor rural de Campo Grande, Nivaldo Sezerino, 57 anos, acredita que sua principal contribuição, para melhorar o cenário, é agindo estrategicamente da porteira para dentro. Há 6 anos entrou na atividade e já foi premiado pelo laticínio Lactalis, pela qualidade do leite entregue. Conquistou a primeira colocação em um ranking de 352 fornecedores da região de Terenos. A qualidade, além do pódio, trouxe cerca de R$ 0,25 a mais, por litro de leite.
“Eu recomendo a pecuária leiteira. O problema do leite é conseguir fazer uma gestão que te dê resultados. Ele é muito justo, a régua mede em centavos, então se não tiver isso bem justo, não se consegue administrar. No começo apenhei muito, e percebi que a gestão precisa ser da porteira para dentro, não adianta querer brigar com Governo. É óbvio que é importante e que ajudaria aumentar o lucro da produção de leite, mas como produtor eu não consigo fazer isso, então eu tenho que trabalhar e, internamente, tentar diminuir meu próprio custo”, desabafa o produtor rural, Sezerino.
Para diminuir seus custos na produção de cerca de 720 litros por dia, Sezerino que começou com o rendimento de 130 litros diariamente, afirma que capacitação, estímulo aos funcionários e tecnologia, são receitas para o otimismo. “Comecei na pecuária leiteira quase que como hobby, mas já tinha a dimensão necessária para se obter resultados. Sempre pensei que se for para produzir de qualquer forma, o insucesso é certo. Mas nossa ideia era focar em resultados. Levamos um certo tempo para aprender e a experiência veio na prática”, pontua ele que já começou investindo em ordenha mecanizada, pastagem e, recentemente, em irrigação.
Referindo-se aos custos Sezerino deixou claro que foi necessária a contratação de um software que os controlasse. E revela que o custo de aproximadamente R$ 1,25 por litro já foi maior, e que trabalha para diminuí-lo mês a mês, mesmo sob o objetivo de aumentar o volume de produção. Já quanto ao preço pago pela indústria, a oscilação nos últimos 12 meses foi constatada no caixa. Ele chegou a receber R$ 1,80 nos meses de julho e agosto, e na sequência reduziu para R$ 1,44, preço mais baixo registrado no último ano, que começa a reagir neste começo de 2017.
Wilson igi afirma que para melhorar ainda mais o cenário, para todos os pecuaristas sul-mato-grossenses, que acreditam no leite como fonte de renda, só a assistência técnica e gerencial poderá estimular o avanço da cadeia. “A alternativa para melhorar a situação é a criação de políticas públicas a favor da pecuária leiteira e assistência técnica, da forma como realiza o Senar. Assim seremos capazes de melhorarmos a qualidade e o volume do leite. Mas só será lucrativo se o leite produzido aqui, conseguir o fluxo interestadual”, finaliza o diretor do Sindicato Rural de Campo Grande, convidando a todos para o 20º Encontro Técnico do Leite.
Para a diretora do Sindicato Rural de Campo Grande, Aurora Real, o evento vem para consolidar um cenário de expectativas positivas no setor lácteo. “Todas as vezes em que o Sindicato realiza uma iniciativa deste porte, desperta-se novos interesses do mercado, reunindo produtores e indústria, que saem do Encontro com novas tarefas e desafios. Como criadora e representante dos criadores da raça Girolando, estarei presente avaliando as novidades e confirmando o potencial desta raça, cada vez mais produtiva e eficiente”, finaliza Aurora.
Fonte: Sindicato Rural
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