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Entrevista da Semana: Márcio Lopes de Freitas

Data: 18/08/2016 00:00

Autor: OCB

Márcio Lopes Freitas fala sobre o cenário do agronegócio no Brasil

Brasília (17/8/16) – Em 4 de julho foi celebrado o Dia Internacional do Cooperativismo e na edição julina da Revista Coopavel trouxe uma entrevista com o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. Agropecuarista e cooperativista há mais de 30 anos, é natural de Patrocínio Paulista, interior de São Paulo (SP) e graduado em Administração pela Universidade de Brasília (UnB). A paixão pela agricultura e pelo cooperativismo vem de família, herança de Rubens de Freitas, seu pai e exemplo de vida. 

Sua participação direta no setor teve início em 1994, presidente da Cocapec e da Credicocapec. Entre 1997 e 2001 esteve à frente da unidade estadual de São Paulo (Ocesp). Depois atuou como presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). 

Em 2005 assumiu a presidência da Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop) e está na presidência da Organização das Cooperativas dos Países de Língua Portuguesa (OCPLP), desde 2010. 

Confira abaixo a entrevista.

Revista Coopavel -O PIB brasileiro em 2015 foi o pior dos últimos 25 anos, fechando o ano com 3,8% negativo, já o agronegócio cresceu 1,8% em relação ao ano anterior. Na sua opinião quais ações são necessárias para manter o agronegócio em crescimento? 

Márcio de Freiras
- Para que o agronegócio brasileiro continue contribuindo com a economia nacional, é necessário que sejam retomados os investimentos do setor, pois por mais que o produtor tenha convicção na sua atividade, o ambiente instável em que estamos inseridos, econômica e politicamente, o coloca em estado de alerta. Podemos elencar rapidamente três medidas que são fundamentais para a sustentabilidade do setor nesse contexto: 

a) Políticas para a garantia da produção e da renda – Não podemos retroceder na política de crédito rural e financiamento para a produção. Além do volume e acessibilidade aos recursos, que devem acompanhar os crescentes custos de produção, é importante que tenhamos um Plano Agrícola Plurianual, incluído em uma Política de Estado, reduzindo as incertezas e garantindo a segurança e previsibilidade necessários para o desenvolvimento do setor. Também são necessários avanços na política de seguro rural, para que o mesmo seja efetivamente um instrumento de mitigação de riscos à produção. 

b) Políticas comerciais – Precisamos ser mais agressivos no acesso e abertura de mercados externos, como o Mercosul, seja individualmente ou em blocos, utilizando a exportação como uma ferramenta de expansão e crescimento, não perdendo de vista a importância de que tenhamos estratégias para transpor barreiras tarifárias e sanitárias. É também de suma importância acelerarmos os investimentos públicos e privados em infraestrutura de transporte, visando uma diminuição de custos logísticos.

c) Avanços tecnológicos e de processos – O Brasil é detentor de uma das mais avançadas tecnologias de produção agropecuária do mundo e protagonista na criação e desenvolvimento de sistemas de produção em áreas tropicais. Sendo assim é imprescindível a garantia de investimentos públicos em pesquisa e tecnologia para o setor, fundamentalmente por meio da Embrapa. Para que continuemos avançando na velocidade que o mercado global exige, também é necessária a modernização dos conceitos e processos de nossos marcos regulatórios, como regulamentos de inspeção industrial e registro de insumos.

RC-Para o senhor, o Plano Safra 2016/2017 é suficiente para garantir o pleno desenvolvimento da agricultura brasileira? 

MF- 
Ao anunciar o Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017, mais uma vez o governo sustentou os fluxos de financiamento de custeio, aquém das necessidades do setor. Do total anunciado, mais de 30% são recursos livres. A estratégia adotada pode ser compreensível visto que manter recursos para rodar a safra faria mais sentido do que ampliar níveis de investimento. O problema é que isso não pode se tornar uma regra, uma vez que as linhas de investimento são “mais nobres” e fundamentais na eficiência de alocação dos recursos, podendo, talvez em um prazo não tão distante, restringir o processo de crescimento do setor agropecuário.

Em relação à elevação das taxas de juros, ponto de maior descontentamento do setor tanto no custeio e comercialização e mais proporcionalmente nos investimentos, caracteriza-se uma estratégia não muito coerente com a realidade, especialmente pelas contribuições do agronegócio brasileiro para nossa economia.

E dependendo das frustrações de safra cada vez mais presentes em regiões e culturas de grande importância e pelos elevados custos de produção, haveria a possibilidade de atravessarmos uma fase de intenso endividamento e a necessidade de repactuação das dívidas rurais. Não raro é ouvirmos que a inadimplência do setor começa a crescer, aumentando assim os níveis de alerta.

Pelo fato de as cooperativas agropecuárias serem legítimas beneficiárias dos recursos de crédito rural, uma vez que ela é a própria extensão dos interesses dos produtores rurais, temos participado de forma ativa dos fóruns de discussão do setor junto ao poder público, veiculando nossas proposições de política agrícola, com ampla base técnica, contando sempre com o apoio de nossas cooperativas.

É importante ressaltarmos que, assim como mencionado anteriormente, a política de crédito rural é apenas um dos componentes necessários para o contínuo desenvolvimento do agronegócio nacional, onde a adoção de diferentes medidas estruturantes é fundamental para a garantia de desenvolvimento constante do setor. 

RC-A logística é um dos principais gargalos para escoar as safras do Brasil, na sua opinião, qual seria a melhor estratégia?

MF-
 Primeiro, é preciso acelerar os investimentos públicos e privados em infraestrutura de transportes por meio do Programa de Investimentos em Logística. Além disso, urge ampliar e facilitar o acesso às linhas de crédito que possibilitem a construção de armazéns e, claro, melhorar os modais brasileiros de forma a assegurar que o produtor tenha opções para escoar sua produção.

RC-A burocracia é outro grande entrave no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, quais seriam os caminhos para solucionar este problema?

MF-
 Sem dúvida alguma, burocracia é uma palavra que nem deveria existir mais no Brasil. Sobre isso, há que se reconhecer o trabalho, por exemplo, do Ministério da Agricultura que reduziu bastante o fluxo dentro de seus processos, encurtando um pouco o caminho entre produtor e servidor. A solução é, sem dúvida, promover as alterações necessárias para evitar o interminável vai e vem de documentos ou retrabalho por parte dos profissionais de dentro e de fora do setor público. Isso só gera descrédito e insatisfação. Acredito que a máquina pública brasileira, ao rever seus processos, perceberá tudo aquilo que pode ser otimizado. É evidente que não podemos prescindir de organização, mas isso não pode ser um dificultador para o produtor brasileiro.

RC-Um dos desafios da globalização mundial é produzir alimentos para o mundo. Na sua visão o Brasil está preparado para essa demanda? Por quê?

MF- 
Temos um grande desafio pela frente. A cada dia, cresce o número de pessoas no mundo e em breve já seremos 9 bilhões, segundo indica a Organização das Nações Unidas (ONU). Com essa projeção, surgem diversos questionamentos. A alimentação é, certamente, um dos pontos que mais chamam a atenção. Natural, então, nos perguntarmos como fazer, por exemplo, para combater a fome, garantindo a segurança alimentar e a produção de alimentos. 

Este é um desafio de todos os governos, com certeza, mas também da agricultura mundial, e nós, brasileiros, temos um papel importante nesse cenário. Afinal, sabemos que o Brasil é um grande produtor de alimentos. Só em grãos, estamos cada vez mais próximos da marca de 200 milhões de toneladas, de acordo com estudos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para se ter ideia, o agronegócio, que se refere ao conjunto de atividades vinculadas à agropecuária, responde por uma média superior a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. 

Sem dúvida, os agricultores brasileiros se destacam pelo volume produzido, mas, também, pelo uso eficaz e sustentável da terra, conseguindo produzir mais em áreas menores. Estamos falando de todos os produtores brasileiros. E muitos deles estão organizados em cooperativas, trabalhando conjuntamente para ganhar mais força e espaço no mercado e, para isso, contam com um suporte importante – dentro e fora da porteira. São serviços que vão desde o beneficiamento e o armazenamento à assistência técnica e à agroindustrialização. Vale ressaltar que as cooperativas funcionam como verdadeiros centros de segurança para os seus cooperados. 

Continue lendo a entrevista, clicando aqui, e avançando até a página 24.

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