Entrevista de semana Abel Paré
Data: 05/03/2015 00:00
Autor: OCB
União de profissionais é caminho para solucionar a crise no transporte
Brasília (4/3) – A série de paralisações promovida por caminhoneiros em diversas partes do país, há quase duas semanas, evidencia que, mais uma vez, a filosofia do movimento cooperativista, onde todos trabalham por todos, pode ser a solução para evitar prejuízos. Com uma pauta ampla e legítima, transportadores cruzaram os braços na esperança de sensibilizar o governo sobre suas demandas históricas. O coordenador nacional do Ramo Transporte, Abel Paré, comenta a situação e alerta que somente com união é que o setor poderá ver contemplados os seus anseios. Confira!
De que forma a série de paralisações afeta as cooperativas de transporte?
Abel Paré – As paralisações afetam todos os segmentos, produtivos ou não. No caso do transportador cooperativo ainda mais porque está diretamente vinculado à problemas e desafios do setor, e considerando seus custos fixos e as dívidas com investimentos, cada dia parado complica ainda mais o fluxo de caixa e o cumprimento dos contratos celebrados anteriormente ao movimento de paralisação.
Quais os principais pleitos dos transportadores?
Abel Paré – Redução do custo do combustível, estabelecimento de uma tabela mínima de fretes para os subcontratados, melhorias na legislação da jornada de trabalho e infraestrutura. São problemas históricos e que nunca receberam a devida atenção dos governos. Agora, sem condições de operação, os caminhoneiros não viram outra saída, senão cruzar os braços.
Quais os obstáculos que o setor tem enfretado?
Abel Paré – Os autônomos são a origem e, portanto o DNA, das cooperativas de transporte, o que prejudica tanto a estes dois atores quanto a todo o modal rodoviário é a falta de fiscalização (eletrônica ou não), sobretudo nos diversos intermediários que atuam na cadeia, que se apropriam de parcelas importantes dos fluxos financeiros e, muitas vezes, agregam pouco ou nenhum valor. Em alguns casos, esses intermediários descumprem a legislação, propositadamente.
Outro ponto igualmente importante é o modelo mental predominante nos autônomos e nos cooperados de atuar, buscando sempre o retorno no curto prazo, não priorizando o estabelecimento de relações mais estáveis e profícuas com contratantes sérios e organizados (inclusive suas cooperativas), que poderiam efetivamente utilizar a capacidade de carga para negociar melhores fretes e condições.
A reunião de autônomos em cooperativas seria uma alternativa para solucionar as questões atualmente discutidas por meio das greves?
Abel Paré – A estruturação e a profissionalização dos pequenos transportadores figuram entre as alternativas mais viáveis para melhorar as condições em discussão. O que, de fato, importa destacar é que não adianta se organizar em cooperativas se os transportadores continuarão atuando de forma individualista, egoísta e imediatista. Isso apenas daria um CNPJ aos problemas e mais um corresponsável.
A “Lei do Motorista” foi sancionada nesta semana, mas parece não ser o suficiente para acalmar os ânimos dos profissionais. O que mais falta?
Abel Paré – Diria que a melhoria efetiva das condições do modal rodoviário de transporte de carga, passa necessariamente pelo aperfeiçoamento da regulamentação do setor (em andamento através da ANTT), de uma fiscalização efetiva e continuada (de preferência eletrônica e nas sedes das empresas, incluindo embarcadores).
Destaco, ainda, uma mudança na política de crédito para aquisição de novos veículos, priorizando quem realmente conhece o setor e esteja organizado (profissionais), e que tenha como premissa a retirada dos veículos muito velhos de circulação, como consta no projeto apresentado pelo Sistema OCB ao BNDES, em 2014, objetivando a renovação da frota.
Diria, por fim, que o investimento (longo prazo) nos outros modais, buscando equilibrar melhor a matriz de transporte do país, seria fundamental, já que na maioria das vezes a rentabilidade do transportador é inversamente proporcional à distância rodada.
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