Entrevista especial: Terezinha Azerêdo Rios
Data: 30/10/2017 00:00
Autor: Gabriela Borsari
No dia 27 de outubro, o Sistema OCB/MS promoveu a palestra “Ética no contexto das organizações com a filósofa Terezinha Azerêdo Rios, que fez mestrado em
Filosofia da Educação pela PUC-SP e doutorado em Educação pela USP.
Autora dos livros Ética e Competência, Compreender e ensinar – por uma docência da
melhor qualidade (Cortez Editora) e Filosofia na escola – o prazer da reflexão, em
parceria com Marcos Lorieri (Editora Moderna) e colunista da revista Nova Escola
Gestão Escolar, na seção “Ética na escola”.
Antes da palestra, que reuniu cooperativistas de todo o Estado, ela concedeu uma entrevista sobre esse assunto!
1- Por que se tem tanta ética no discurso e pouca na prática? Isso é mais evidente nas organizações?
Acredito que essa questão de ter mais ética no discurso não reduz ao campo da organização e sim, faz parte do contexto social. Na nossa rotina corrida e a pressão que vivemos, na qual temos que dar conta de tudo, não temos um cuidado de tomar distância das situações e olhar os valores e princípios de forma crítica.
2- No campo empresarial é mais difícil fazer a reflexão filosófica? Nesse segmento ela é mais importante?
Essa reflexão deve ser exigida em todos os campos, mas nas organizações há uma maior resistência. A ética por ser algo mais reflexivo, que fica no campo da filosofia, fica com a impressão que só é teoria. Tanto que ouvimos com frequência: “não me venha com filosofias”. E acaba sendo julgada como inútil, como algo de quem não tem o que fazer.
Nesse espaço realmente se encontra mais resistência, devido a formação que recebemos, que deixa isso de lado e leva mais em conta o caráter técnico do trabalho. Temos que saber bem as técnicas da engenharia, contabilidade, direito, etc, mas defendo que ninguém pode ser um bom profissional, mesmo com a melhor formação, se não tiver a consciência do significado do seu trabalho e dos valores implicados.
3- No seu livro há elementos que dificultam o exercício da ética, como a globalizações, internet e tecnologia. São eles mesmos ou é a conjuntura atual da nossa sociedade?
Esses itens provocam e tiram a gente dessa possibilidade de olhar a realidade de forma diferente. A globalização, a internet e a tecnologia são fundamentais e enriquece a cultura, entretanto o que eu questiono é a forma de como se utiliza essas ferramentas, pois faz com que não se questione as coisas e que tudo é normal e aceitável.
4- O que são empresas eticamente orientadas?
Empresas que se consideram eticamente orientadas, devem procurar orientar o seu trabalho por princípios éticos, como respeito, justiça e solidariedade, trilhar o horizonte do bem comum.
Muitas dizem em seu discurso colaborar na construção do bem comum, mas será mesmo? Ou é apenas no resultado? Dizem que querem focar no bem do cliente, mas se o cliente se curvar às exigências propostas, ele estará atendido, mas será que é o bem dele mesmo? Por isso, uma reflexão crítica é tão importante.
5- Como associar ética e economia?
Economia é uma forma de organização da sociedade no sentido de provimento da vida material, ela sem duvida é algo importante, pois “ecos” significa casa ou lar, mas se desvirtua o sentido real. Rubens Alves diz: “aqueles que pensam que economia é a ciência do dinheiro, é igual pensar que gastronomia é a ciência das panelas”. Reduzem apenas ao dinheiro, não ao lucro, que muitas vezes não é justo. Por isso, a ética deve estar presente não só na economia, mas também na política e em todos os contextos da sociedade, é um alicerce da vida social.
6- A ética é um dos princípios do cooperativismo, a senhora acredita que nessas organizações é mais fácil haver ética?
É um desafio maior, porque está na sua denominação realizar um trabalho cooperativo, que significa trabalhar pelo bem de todos. A vigilância da sociedade deve ser maior, pois uma cooperativa não pode beneficiar apenas alguns, mas esta postura deveria ser de toda a sociedade.
7- Liderança e cargo, como equilibrar isso?
Pessoas acham que liderança é cargo e não é, o desejável é que cada profissional no seu cargo pudesse desempenhar a função de líder, mas não como alguém acima dos demais, mas sim aquele que estimula a ir junto com ele, para alcançar os objetivos que são de todos, que são comuns de todos.
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