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Entrevista: Roberto Rodrigues

Data: 09/12/2016 00:00

Autor: OCB

Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP e embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para o cooperativismo mundial, foi o entrevistado da edição deste mês da revista Paraná Cooperativo, editada pelo Sistema Ocepar.

 

Dono de um conhecimento inquestionável sobre economia e cooperativismo brasileiro, ele foi enfático ao dizer que o sistema cooperativista consegue aliar questões de mercado e demandas sociais, de forma eficiente e com foco, promovendo o bem-estar das pessoas.

 

Confira, abaixo, trechos da entrevista, mas para lê-la por completo, clique aqui.

 

 

Como definir o cooperativismo na atualidade. Qual é a verdadeira fisionomia que deve ser apresentada para a sociedade no mundo todo?

 

Quando caiu o muro de Berlim, o mundo inteiro e o cooperativismo ficaram perplexos. Éramos, até então, chamados de terceira via, nos posicionando entre o capitalismo e o socialismo. Com a queda do muro, o socialismo sofreu um desastre, desmaiou e ainda continua assim, salvo poucos países do mundo que seguem essa doutrina.

 

E o capitalismo virou liberalismo. Daí houve uma ampla discussão global: agora, o que nós somos? Foi quando desenvolvi a tese da segunda onda. Não somos mais um rio que flui entre duas margens, o socialismo e o capitalismo, mas uma ponte que junta as duas margens. De um lado, o mercado, onde as cooperativas têm que estar inseridas e eficientemente focadas e, do outro lado, o bem estar das pessoas.

 

Fiz esse discurso aqui no Paraná há muito tempo, e o estado agarrou isso. E quando esse discurso virou manchete, acabei virando presidente da ACI, pois nele está inserido o selo da perenidade, ou seja, como se faz para manter a doutrina viva e o processo de sucessão articulado.

 

É aí que se insere a participação dos jovens, em especial no processo sucessório das cooperativas?

 

Não só dos jovens, mas também das mulheres, afinal, elas são as responsáveis pela preservação da vida e jamais podem ficar de fora deste processo, porque têm um conceito de perenidade diferente do homem, por uma questão biológica. E sou um eterno defensor da participação dos jovens e das mulheres no processo sucessório, por entender que toda cooperativa tem de ter jovens e mulheres na diretoria ou conselho de administração.

 

Quando fui presidente da ACI, obriguei todos os Continentes a indicarem uma mulher, aliás, fui o primeiro presidente não europeu da ACI a ter na diretoria quatro mulheres. E quem me sucedeu foi uma mulher, Dame Pauline Green, da Inglaterra, que foi sucedida por outra mulher. Elas estão preparadas para assumir postos mais altos no cooperativismo.

 

Nesse aspecto, o Paraná avançou muito e outros estados também estão adotando a prática de colocar jovens e mulheres em cargos diretivos e deram um salto no processo sucessório. Mas ainda acho a participação feminina muito pequena, especialmente nas cooperativas agropecuárias, de transportes e de infraestrutura. Inclusive no Paraná. Mas isso muda muito quando se trata de outros ramos, como crédito, consumo e saúde.

 

Qual o motivo de o senhor, com frequência, insistir na tese de que as cooperativas devem estar atentas à comunicação?

 

Porque é por meio da comunicação que se pode dizer à sociedade o que é, para que serve e o que faz a cooperativa. Recentemente, vi uma propaganda da Cooperativa Aurora, de Chapecó (SC), que é notável, porque mistura o produto com a ideia da cooperação. É o que sempre defendi: na hora de vender, mostrar que o produto é bom, porque é de cooperativa, pois o conceito que há por trás disso é que convence o consumidor.

 

Para fazer isso, a autogestão é essencial. E a autogestão, que conseguimos a duras penas incluir na Constituinte de 1988, começou aqui no Paraná. Foi o Guntolf van Kaick (ex-presidente da Ocepar) que levou essa tese para mim. E daí, como resultado da luta, com a forte pressão do Paraná e de outros estados, conseguimos incluir o assunto na Constituição brasileira. Por isso, afirmo que a comunicação é algo central no meio cooperativista.

 

Os números comprovam isso, afinal temos um bilhão de pessoas no mundo filiadas ao cooperativismo. E se formos multiplicar pelo número de pessoas na família, com uma média de mais três, temos cerca de quatro bilhões de pessoas vivendo do cooperativismo, mais da metade da população do planeta. No Brasil temos apenas 20%, porque estamos ainda engatinhando no processo de comunicação social.

 

O senhor apontaria exemplos de países como referência para essa questão da comunicação no meio cooperativista?

 

 

Sim, Japão, Alemanha, Itália. Na Itália eu vi a comunicação voltada mais para produtos industrializados pelas cooperativas. Tem a propaganda de manteiga que diz: ‘Essa é melhor porque é feita por uma cooperativa. Sabe por quê? Porque não quer ter lucro. Ela quer apenas servir bem a você e a sua família!’ Mensagem simples que agrega pensamento positivo sobre a forma de atuar do cooperativismo. A própria mensagem doutrinária está implícita no produto. O 

 

Japão também faz muito bem isso, de forma profissional, porque lá a cooperação faz parte da índole associativa e solidária do povo. Portanto, o melhor que vi na linha de associar o produto à filosofia cooperativista foi nesses dois países.

 

 

 

Fonte: Ocepar

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