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Especialista em inovacão avisa: o futuro bate à porta

Data: 26/07/2019 00:00

Autor: OCB

O futuro já está batendo à porta e as cooperativas precisam se preparar. Essa foi a ideia central da palestra do diretor de Marketing da Tecnisa, Romeo Busarello, especialista em inovação e professor de importantes instituições de ensino do país, como USP, FGV e ESPM. Ele encerrou o Seminário Nacional das Cooperativas Educacionais, realizado nesta quarta-feira (24), em Brasília, pela Organização das Cooperativas Brasileiras e que reuniu mais de 170 participantes.

Segundo o especialista, a falta de um planejamento que inclua a educação e o aprendizado de novas habilidades na “cesta básica da sobrevivência” pode, não só, ser a causa de desemprego, como da depressão para muitos profissionais. Ele também comentou que as empresas inovam por três razões: medo, preguiça ou ambição e que a educação é um dos setores que passarão por uma grande revolução nos próximos anos. Confira!

 

O que motiva a inovação?

Poucas delas inovam por ambição. Poucas, mesmo! Elas têm a inovação em seu DNA. Por exemplo: Apple e Coca-cola. Tem aquelas que inovam por preguiça. Ou seja, empresas que querem fazer mais com menos. O que seria da humanidade se não fosse a roda? A roda é uma invenção baseada em preguiça. Só estamos aqui hoje em virtude da roda. Infelizmente, a maior parte das empresas inova por medo. Medo de ficar para traz, de perder mercado, de falir, sobretudo as já estabelecidas.

Mas, como disse, são poucas que inovam por ambição. As startups são exemplos de empresas que inovam por ambição, porque buscam um problema não resolvido e inovação na busca de soluções criativas. Às vezes é uma ambição que até um pouco de preguiça. Elas observam para fazer mais com menos e, assim, entregar mais valor para as empresas que as contratam. O Uber é um exemplo de inovação baseada na ambição e na preguiça.

 

O que esperar do futuro?

Olha, estive na China e pude vê-los usando o 5G, que deve chegar no Brasil em cinco ou seis anos e vai mudar o jogo do mercado. O 5G talvez seja um dos grandes responsáveis por causar um aumento substancial da depressão no mundo. Porque ele vai disruptar (quebrar paradigmas) absolutamente tudo.

Vi alguns exemplos de aplicação do 5G que são assustadores. Por exemplo: telemedicina. Diferentemente do que todo mundo acha, essa capacidade toda de internet não é para fazer download de vídeos ou assistir filmes na Netflix. Não! Isso é para que carro autônomo, por exemplo. Não dá para ter um carro desses com oscilação, por exemplo. Se oscilar, tem acidente de trânsito.

Outro exemplo: hoje em dia, se você tem uma dor de garganta, vai ao pronto socorro. Ao chegar lá, o médico te examina rapidamente, coloca uma lanterna na sua garganta, e te receita um antibiótico ou um anti-inflamatório. Isso custa R$ 500,00. Com o 5G, você vai poder usar seu celular, focando a câmera dele na sua garganta, vai ter um médico na China que vai avaliar a situação e te receitar um remédio. Em 30 minutos o remédio já vai chegar na sua casa, por meio de uma dessas empresas de tele entrega. Quanto custou essa consulta? Cinco dólares.

 

Conta tanta facilidade, a depressão viria de onde?

Essa tecnologia vai disruptar muitas carreiras. As pessoas não vão conseguir aportar novas competências na sua paleta. Já temos uma série de profissões que vêm perdendo o sentido de existir, outras sendo extintas e uma série de outras aparecendo. Então, a gente vive o seguinte cenário: hoje a gente tem um médico que estuda, pelo menos oito anos, aqui no Brasil, e que logo, logo terá de concorrer com um médico lá de Macau, numa simples consulta de garganta. E essas relações não poderão ser muito controladas. É o cliente escolhendo o que é mais cômodo para ele.

O 5G vai gerar uma infinidade enorme de mudanças que ninguém sabe quais são e, por isso, pessoas precisam se preparar. E a educação é um dos setores que vai precisar ser totalmente reformulado.

 

Que tipo de mudanças?

Quem poderia imaginar as mudanças advindas do uso de smartphones e seus impactos na economia? Em pouco mais de uma década, os smartphones criaram milhões de novos negócios. Sem eles não teríamos aplicativos de transporte, comida, nem mesmo o Instagran. Como é que iríamos postar coisas no Instagran via desktop? Você se imagina repetindo: pega a máquina fotográfica, tira a foto, pega o cabo, descarrega no computador para postar? O legal é você ver e postar a foto. Então, sem os smartphones, esses milhares de negócios não seriam viáveis.

 

Como se preparar para esse futuro que já está batendo à porta?

O 5G vai gerar uma quantidade enorme de negócios que vai demandar uma série de competências completamente distintas do que temos hoje. Então, as empresas de inteligência artificial, hoje em dia, não existiam há cinco anos. A empresa que atende a Tecnisa tem 380 funcionários. Desse total, cerca de 25% são professores ou estudantes do curso de Letras. Eles são gestores de empatia de robôs.

A lógica é simples: o cientista de dados cria o algoritmo; o cliente entra no site para comprar um imóvel e era atendido por um robô que falava mais ou menos assim: obrigado por entrar no site. Vi que você estava navegando pela piscina. Como posso te ajudar? E quanto colocamos os professores ou estudantes de Letras, o diálogo é totalmente diferente. Ele vai tratar o cliente pelo nome, vai ser simpático, ser direto, simples, claro, envolvente, vai descrever as características de um imóvel do jeito que um dono faria. Ele traz a história das coisas, ele reage, conversa com detalhes.

Então, temos o seguinte: aquela pessoa que estudava para ser um professor, hoje estuda para ser um gestor de empatia de robôs. E o salário pago a esse profissional é pelo menos 50% a mais do que ele ganharia como professor de uma escola pública, por exemplo, com todos os direitos trabalhistas.

O grande problema, hoje em dia, é o descasamento de competências de forma intensa e a educação passará a ser um item básico da nossa cesta básica de sobrevivência. Ou o profissional se educa em todos os níveis, ou seja, ele precisa buscar outras habilidades ou ele está fora do mercado. Me preocupa muito mais com os profissionais com mais de 40 anos do que com essa garotada que está chegando aí, e que se vira, se safa... teremos uma legião de pessoas sem função. É por isso que a depressão fará parte desse processo.

 

O que é descasamento de competências?

Vou dar um exemplo meu. Dou aula há 22 anos. Todas as escolas estão iniciando sua reestruturação para EAD e eu tenho dificuldade de falar para o vídeo. Estou tendo que me programar. Contratei uma consultora para me ajudar com essa nova habilidade. Sou muito bom no palco, mas sou ruim no vídeo. E ser bom no vídeo é uma competência nova, porque as aulas serão, cada vez mais, via vídeo. O EAD não é mais uma tendência. Já é uma realidade.

Grande parte das habilidades que o mercado exige, não estão nas escolas formais e nem nos cursos de longa duração. Escolas alternativas ou cursos on line ajudam bastante no desenvolvimento dessas competências. Eu não preciso fazer um mestrado para entender e aplicar conteúdo de comunicação não violenta ou masculinidade tóxica, por exemplo.

 

Como inovar na sala de aula?

Não tem como uma receita. São várias formas. É o que eu chamo de MPC, ou seja, um montão de pequenas coisas, que passa por salas com quadros de 360°, cadeiras e mesas com rodas, para que todos tenham condições de estar em locais diferentes garantindo assim a diversidade, um aluno cada vez mais protagonista. Em SP, por exemplo, vai ser aberta uma unidade da École 42 (leia mais) uma escola sem professores, com graduação de três anos, em Coding (programação para computadores).

É muito importante dizer que a educação precisa mudar. Essa geração que está chegando não quer estudar tanto tempo. Não vão querer passar oito anos estudando medicina. Em oito anos a medicina muda substancialmente. E cursos de quatro anos? Isso tem de mudar.

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