"Estimular a pesquisa é estimular o crescimento do cooperativismo"
Data: 13/10/2017 00:00
Autor: OCB
Esse é o pensamento da pesquisadora Valeria Fully, entrevistada dessa semana. Membro da Comissão Julgadora dos trabalhos que serão apresentados no 4º EBPC (Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo), Valeria apresenta a visão do grupo a respeito da importância de se levantar e estudar dados para o crescimento constante do cooperativismo.
Para ela, o interesse da Academia pelo setor sempre existiu e, agora, com mais dados disponíveis, as cooperativas se tornam ainda mais atraentes aos pesquisadores. “O acesso aos dados é crucial para fazer com que uma organização seja mais ou menos estudada”.
O 4º EBPC ocorre de 20 a 22 de novembro deste ano, quando serão premiados os 50 melhores trabalhos inscritos.
O processo teve a contribuição de um conjunto de pessoas que têm conhecimento acadêmico da área e estão vinculadas a instituições de ensino superior. Foi um sistema blind review, ou seja, de avaliação imparcial e sem identificação dos autores por parte dos avaliadores. Um processo eficiente e eficaz, que proporcionou a seleção de trabalhos qualidade.
Primeiramente, é importante destacar que as cooperativas aumentaram sua participação na economia. O acesso aos dados das cooperativas é uma consequência desta importância crescente, o que tem estimulado a ampliação do interesse e do desenvolvimento de estudos sobre as mesmas.
Acredito que as universidade e faculdades sempre deram atenção ao Cooperativismo. Há exemplos na história de que o cooperativismo já foi muito estudado. No estado de São Paulo, por exemplo, o atual Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA) já foi órgão do governo vinculado a USP. Hoje não é mais. Na Universidade Federal de Viçosa, desde a década de 60, têm-se o programa de pós-graduação em Economia Aplicada e de Extensão Rural que desenvolvem pesquisas na área do cooperativismo. Além de outras instituições de ensino que têm o cooperativismo como foco de suas pesquisas científicas.
Destaco que, o que ocorre hoje é que há mais dados disponíveis de cooperativas e isto as tornam mais atrativas aos pesquisadores. O acesso aos dados é crucial para fazer com que uma organização seja mais ou menos estudada. Tome, por exemplo, o estado do Paraná. As cooperativas agropecuárias daquele estado têm sido bem estudadas. Isto ocorre porque há dados. Veja a quantidade de pesquisas sobre cooperativas de crédito que aumentou significativamente. Uma das principais razões é o acesso aos dados.
Em geral, o EBPC ocorre a cada dois anos. No ano passado não ocorreu e isto tem algum efeito sobre o volume encaminhado. A outra questão é o aumento da quantidade de pesquisas feitas pelos motivos já apontados. É importante considerar também a logística de deslocamento dos participantes, acredita-se que as questões de tempo e aspectos logísticos para a viagem à Brasília sejam aspectos facilitadores, e incentivam a participação. Por fim, o incentivo do sistema OCB em premiar os 50 melhores trabalhos, além da parceria que ocorreu com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o prêmio ABDE-BID 2017, foram fatores motivadores para o aumento expressivo do número de artigos.
Desempenho das cooperativas é sempre um tema desafiante pela particularidade do empreendimento cooperativo. Em geral, a gente só olha, por exemplo, a performance financeira e a eficiência econômica. A gente ainda está "engatinhando" na compreensão dos aspectos de sua performance social, aquela que mensuraria a importância da cooperativa na vida do associado. Esta parte do conhecimento ainda é muito precária. Os estudos existentes ainda carecem de rigor metodológico, uma vez que, raramente, permitem a sua reprodução. Creio que os pesquisadores precisam centralizar esforços nesta área.
Há duas formas diretas: a primeira é a mais difícil, mas a mais "barata". Consiste apenas na liberação dos dados para os estudos. Ela é mais difícil porque a cooperativa acredita que o pesquisador está interessado nos seus dados particulares ou que seus dados são estratégicos e poderão ser usados para outros fins. Este tipo de pensamento torna a cooperativa menos aberta e, por conseguinte, menos estudada. Se isto ocorre, diminui a chance de geração de conhecimento que possa considerar as suas realidades. Portanto, vira um círculo vicioso. Não abre os dados porque não acredita na pesquisa, mas não acredita na pesquisa porque não fornece os dados. Este seria o jeito mais barato porque a informação sairia a custo zero para a cooperativa.
A segunda forma seria o fornecimento de bolsas de estudo para que os pesquisadores gerassem pesquisas que pudessem ser usados no processo de desenvolvimento. O custo desta estratégia de incentivo é maior porque tem uma bolsa de estudo envolvida.
Veja que o trabalho acadêmico é o verdadeiro processo de Pesquisa e Desenvolvimento. Isto significa que a gente usa o conhecimento teórico para resolver problemas empíricos. Isto é o que ocorre em qualquer pesquisa acadêmica. Só é desenvolvida se de fato resolve um problema (Teórico ou empírico). Portanto, se esperaria que houvesse aplicabilidade total dos resultados gerados da pesquisa.
É a possibilidade de rever conceitos, trocar ideias sobre pesquisas, se atualizar sobre o que está sendo pesquisado e tomar contato com os resultados encontrados para os diferentes problemas existentes no mundo das cooperativas.
O Sistema, enquanto entidade de representação, deve continuar estimulando a pesquisa sobre cooperativas. Os resultados encontrados nas pesquisas lhe serão muito úteis. Seja para saber o que tem sido feito e tem dado resultado positivo, quanto para saber o que está dando errado e porque isto está acontecendo. Portanto, estimular a pesquisa é estimular o crescimento do cooperativismo.
Fonte: Sistema OCB
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