Operando sem dinheiro, modelo de agência bancária do Sicredi é apresentado na ONU
Data: 18/07/2019 00:00
Autor: Gazeta do Povo
Foi-se o tempo em que agência bancária era sinônimo de dinheiro. Pelo menos é nisto o que aposta o Sicredi, instituição financeira cooperativa à frente da Agência Smart, projeto-piloto que realiza transações financeiras sem circulação de papel moeda, cujo projeto será apresentado na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em evento a ser realizado nesta terça-feira (16). O convite parte do fato de o modelo estar alinhado ao que propõem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da instituição.
Instalada em Cafeara, no interior do Paraná, a agência foi inspirada no conceito cashless cities (cidades sem dinheiro, em tradução livre), aplicado em cidades da China e da Índia, e opera há pouco mais de um ano sem dinheiro em espécie ou cofre, levando serviços bancários para o pequeno município, que conta com pouco mais de 2,5 mil habitantes.
“Tínhamos um problema relacionado ao custo de instalação de uma agência bancária em cidades de pequeno porte devido ao alto nível de segurança que ela deve ter (seguro, sistema de monitoramento, vigia, carro-forte). É difícil que estes municípios consigam manter um volume de transações que gerem receita suficiente para pagar esta conta”, explica David Conchon, superintendente de negócios do Sicredi, ao justificar a adoção pelo modelo Smart. Mesmo com outras duas agências em funcionamento desde o início deste ano, nos distritos de Guaravera (Londrina) e São Benedito das Areias (Mococa, São Paulo), ele ainda opera em fase de testes.
Para solucionar a questão, o Sicredi apostou em um modelo de agência que oferta todos os produtos e serviços da cooperativa, mas que não movimenta nem um centavo em espécie em sua agência física. Nela, os clientes podem abrir a conta corrente, contratar crédito, consórcios, seguros, cartão de crédito e depositar cheques. O pagamento de contas e transferências, por sua vez, são feitos no ambiente online, por meio de aplicativo próprio. Os clientes, inclusive, têm wi-fi liberado e à disposição para tal no interior da agência e também na praça onde ela está instalada, em área cedida pela igreja da cidade.
Construída em contêiner, a agência têm na sua estrutura física outra inovação em relação às instalações bancárias tradicionais. Sistemas de captação de água e de geração de energia fotovoltaica, com produção excedente à necessária para seu funcionamento, são outros diferenciais do projeto.
“A iniciativa democratiza o acesso aos produtos financeiros e possibilita que os moradores tenham um ponto de atendimento onde podem ter suas necessidades atendidas”, resume, em nota, Rogério Machado, diretor executivo da Sicredi União PR/SP. Ele destaca este ponto baseado no fato de, em geral, os grandes bancos não costumarem investir na abertura de agências em cidades ou comunidades muito pequenas, justamente pelos custos envolvidos em sua operacionalização, que giram em torno de R$ 50 mil, no caso do Sicredi, segundo estimativa de Conchon. Dados do Banco Central, divulgados em abril de 2019, apontam que 376 municípios brasileiros não possuem dependências bancárias.
De nada adiantaria, no entanto, inovar na oferta do serviço sem a circulação de moeda ao cliente se ele precisasse do dinheiro físico para continuar comprando e pagando suas contas junto ao comércio. Assim, além da conta-corrente e dos produtos financeiros voltados à pessoa física, a Agência Smart passou a oferecer maquininhas gratuitas aos comerciantes locais, como forma de fechar o ciclo do dinheiro, cobrindo do recebimento do salário ao gasto dele nas despesas domésticas e pessoais.
“Até o padre passou a receber o dízimo na maquininha. Fizemos um trabalho para a transação e a transformação financeira”, avalia o superintendente de negócios do Sicredi. Isso fez com que, das cerca de 750 pessoas listadas entre as economicamente ativas no município, quase 600 já tenham se associado à Agência Smart, como conta Cochon.
A meta do Sicredi, agora, é a de expandir o modelo e levá-lo para outras cidades e comunidades brasileiras a partir de 2020. A cooperativa ainda não tem mapeado quantas e onde elas serão instaladas, mas afirma que o foco continuará nas localidades pequenas, que não são assistidas por instituições financeiras, do Paraná e de São Paulo, a princípio.
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