Perspectivas para o futuro dos negócios no cooperativismo de crédito
Data: 08/02/2023 07:52
Autor: Conexão Coop
Os dados do AnuárioCoop 2022 mostram um crescimento do alcance do cooperativismo de crédito no Brasil. Entre 2019 e 2021, o número de cooperados ligados ao Ramo cresceu em mais de 3 milhões de pessoas – de quase 10,8 milhões para quase 14 milhões de associados.
As oportunidades e a geração de emprego proporcionadas pelo cooperativismo de crédito também são evidentes. Os dados mais recentes, de 2021, indicam que o Ramo emprega quase 90 mil pessoas. A grandeza econômica também é notável. Afinal, são:
Tudo isso enquanto promove a inclusão financeira, o acesso a serviços financeiros e o desenvolvimento regional sustentável. Ou seja: o cooperativismo de crédito cumpre um papel central para o desenvolvimento de uma economia solidária, sustentável e com responsabilidade social.
Contudo, o setor financeiro está passando por um momento de transformações – tanto em relação à tecnologia quanto aos hábitos de consumo. Para se manter competitivo, o Ramo precisa olhar e se preparar para os desafios que se impõem.
Para entender melhor o futuro dos negócios no cooperativismo de crédito em meio a esse contexto, o ConexãoCoop conversou com Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob e autor do livro “Cooperativismo financeiro na década de 2020: sem filtros!”.
Meinen falou sobre a adoção da agenda ESG no Ramo, a adaptação das cooperativas ao digital banking e as principais oportunidades e desafios para o futuro do cooperativismo de crédito. Aproveite a leitura!
Nos últimos anos, o ecossistema de serviços financeiros precisou se adaptar ao mundo digital. Os consumidores passam cada vez mais tempo conectados e também querem digitalizar a vida financeira.
Não é por acaso que as fintechs passam por um momento de crescimento exponencial, o que atrai consumidores e diminui, ainda que aos poucos, a concentração bancária. Pesquisas de mercado apontam que os canais digitais, como aplicativos e internet banking, lideram a satisfação dos clientes. Isso indica que a força dos bancos tradicionais está caindo, enquanto experiências híbridas ou totalmente digitais ocupam esse espaço.
Diante desse contexto que ganha força, Ênio Meinen acredita que o cooperativismo é parte integrante do movimento e já está impulsionando essa tendência:
“As cooperativas financeiras, além de já serem a referência no relacionamento físico, estão incorporando rapidamente a tecnologia que permite uma boa experiência digital. A alta disponibilidade de canais remotos, combinada com a melhoria dos processos, tem atraído um universo relevante de novos cooperados pelos acessos não presenciais”.
Ele aponta que o meio digital já representa uma fatia importante dos novos ingressos no quadro social das cooperativas de crédito, mas pondera: “Estamos falando de uma escolha do dono do negócio: quem prefere o contato presencial (high touch), tem essa (ampla) possibilidade; assim como quem elege a comodidade do autoatendimento (high tech)”.
“Dito de outra forma, as cooperativas posicionam-se como instituições na era digital, mas não como empresas digitais. Atuam como iniciativas à distância, e não como entidades de distância”, resume o especialista.
Segundo o relatório do Índice Global de Inovação de 2022, produzido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês), os bancos digitais se destacam no ambiente de inovação da América Latina. O Brasil sedia o banco digital com maior número de clientes.
Isso quer dizer que há um caminho de inclusão digital financeira que se apresenta para as cooperativas – e já tem coop explorando esse mercado. É o caso do Woop, uma plataforma bancária desenvolvida pelo Sicredi.
Durante o Cooptech, evento de inovação no cooperativismo, Eduardo Corso, head de digital banking da cooperativa, explicou que, graças ao Woop, o Sicredi conseguiu alcançar um novo público. E por falar em Cooptech, a Coonecta realizará, em maio de 2023, uma edição totalmente focada no Ramo Crédito.
Uma face importante da modernização dos serviços financeiros está no uso de dados em prol de serviços mais eficientes e personalizados. Dados indicam que cerca de 90% dos clientes acreditam que a personalização é atraente, e isso depende da disponibilidade de informações para que seja efetivo.
O Open Finance surgiu para suprir essa necessidade de dados, por meio do compartilhamento entre as instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central, destaca a Análise Econômica 76, do Sistema OCB, dedicada ao sistema financeiro.
O projeto é a ampliação do Open Banking e começou a ser implementado em janeiro de 2021. A adesão das cooperativas ao Open Finance proporciona aspectos favoráveis, quanto ao desenvolvimento de uma curva de aprendizado e melhor preparação para a maturação do ambiente tecnológico.
A agenda ESG, sigla para Environmental (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança) ocupa um espaço importante nas instituições financeiras. Assim, no cooperativismo de crédito não é diferente.
Dados da Grant Thornton, por exemplo, apuraram que 100% das organizações do setor de finanças consultadas consideram os aspectos ESG dentre os temas prioritários.
Segundo um estudo da consultoria PwC, as cooperativas de crédito têm sido cada vez mais demandadas pelos seus cooperados e demais partes interessadas para que se posicionem de forma concreta, rápida e transparente em relação aos pilares do ESG. Meinen aponta que o ESG está no DNA do movimento cooperativista:
“O cooperativismo financeiro, como movimento territorialmente engajado e fundado nas pessoas e não no capital, abraça os pilares ESG desde a sua concepção. Portanto, está filosoficamente convicto de que deverá aprofundar as suas contribuições para a promoção de um ambiente econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo”.
Entretanto, ainda de acordo com o estudo da PwC, mais da metade das cooperativas de crédito não possuem metas específicas para suas iniciativas ligadas à agenda ESG. Para Ênio Meinen, a demanda dos cooperados por iniciativas sustentáveis vai aumentar a importância do ESG no planejamento estratégico das coops.
“Tomando por referência a indústria financeira, organizações concorrentes, ao passarem a dar ênfase aos direcionadores ESG, tenderão a reduzir a sua distância em relação às cooperativas. Se as coops não expandirem as suas ações, bancos e outros operadores desse mercado poderão superá-las em expressividade e efetividade em tais fundamentos”, explica.
O especialista vê o futuro dos negócios do cooperativismo de crédito relacionado ao ESG com otimismo. “Pelo que venho acompanhando, e faço isso bem de perto, todos os sistemas cooperativos financeiros já têm o seu plano de sustentabilidade, envolvendo governança e aspirações nas áreas social e ambiental”.
“Vejo que há eixos bem definidos, compromissos claros e ações descritas com objetividade indicando quais as evidências materiais a serem colhidas para cada objetivo e em quanto tempo”, complementa.
Ele acrescenta, também, que “as cooperativas financeiras dispõem de terreno abundante para aprimorar, expandir e consolidar o seu modelo de negócios nessa direção”. A partir dessa dinâmica, as maiores oportunidades para o Ramo estão situadas nos pilares ambiental e de governança.
“Na perspectiva ambiental, o movimento deverá promover ajustes em seu portfólio de negócios, de modo a dar uma contribuição mais efetiva no financiamento de projetos que respeitem a escassez de recursos naturais e reduzam as emissões de poluentes, bem como aqueles que incentivem atividades vinculadas a pequenos negócios no campo e na cidade, sobretudo os liderados por mulheres”.
No âmbito de governança, por outro lado, “há espaço, notadamente, para reduzir a distorção entre a representatividade das mulheres, dos jovens e do público diverso no quadro social versus a sua participação nas esferas superiores de gestão”.
Todavia, “a equidade de gênero e o culto, real, ao pluralismo estão bem distantes do que recomendam as boas práticas e orienta a cartilha doutrinária do movimento”, analisa Meinen.
Por fim, Ênio Meinen refletiu sobre os maiores desafios e oportunidades que o cooperativismo de crédito terá de encarar nos próximos anos. Para ele, ambos os aspectos andam juntos:
“Eu diria que, entre as grandes necessidades e os principais objetivos, está a busca de uma maior escala associativa e de negócios, ao lado da otimização de custos e investimentos. Aspectos que, combinados, melhoram a eficiência operacional e, portanto, ampliam a competitividade do segmento”.
Para concluir, Meinen lista algumas tarefas para as cooperativas de crédito para o futuro de seus negócios:
“Nesse sentido, é preciso incentivar o acesso do público jovem; qualificar o portfólio operacional (em diversidade e em processos); aprimorar a força de trabalho, incluindo a camada estratégica da governança; intensificar a intercooperação e assegurar orçamento generoso para a tecnologia da informação”, finaliza.
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