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Sicoob União MT/MS promove inclusão de pessoas com deficiência auditiva

Data: 23/03/2021 14:08

Autor: Sicoob

No grupo dos trabalhadores enquadrados como PCDs, os surdos estão entre os que enfrentam as maiores dificuldades para encontrar boas oportunidades de emprego. O fato de não conseguirem se comunicar oralmente, muitas vezes, acaba se tornando um empecilho, por exemplo, se a função envolve atendimento ao público. Mas foi justamente tal necessidade que acabou ajudando a cuiabana Camila Penha Bortoleto, de 27 anos, a realizar o sonho de trabalhar em uma instituição financeira, neste caso a agência do Sicoob União MT/MS no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).

O ingresso na cooperativa como assistente de Relacionamento e Negócios é mais uma vitória importante dentro do histórico de batalhas que Camila vem enfrentando desde que nasceu. Seu grau de surdez é bastante alto, ao ponto de só conseguir ouvir sons com mais de 120 decibéis – para se ter uma ideia, o ouvido humano suporta bem até 70 e, acima disso, há o risco de lesão. É resultado de uma infecção por rubéola da mãe, Cleide Penha Bortoleto, no início da gravidez, e vem obrigando a jovem a se superar desde a infância, em um país cuja inclusão de estudantes surdos ainda hoje está bastante longe da ideal.

Camila não se deixou levar pelas dificuldades e buscou se aperfeiçoar nos mais diferentes níveis. Este ano se formou no curso superior de Administração, mas já havia feito curso para jovem aprendiz de assistente administrativo no Senai, ao mesmo tempo em que trabalhava em uma empresa privada. Também se orgulha de ter feito parte da equipe do Departamento Judiciário Auxiliar (Dejaux) do TJMT, junto com outros surdos, dentro de um programa de inclusão social do Judiciário mato-grossense, que hoje emprega dezenas de pessoas com deficiência auditiva.

Foi lá que viu a oportunidade de ingressar no Sicoob União MT/MS. “Eu queria muito trabalhar no Sicoob porque eu gosto de aprendizado, de conquistar conhecimento”, conta Camila. Apesar de ter começado recentemente – iniciou no dia 8 de março -, ela se diz apaixonada pelo trabalho e já vislumbra inúmeras possibilidades. “Estou gostando muito de trabalhar no Sicoob, amei as atividades e também gostei dos vários cursos do Sistema. Estou começando a aprender”, reconhece, afirmando que seu perfil combina muito com o ambiente corporativo.

Além de aprender, a assistente de Relacionamento e Negócios também quer ensinar o que sabe aos colegas, que, segundo ela, têm sido atenciosos e ajudado bastante. “Os colegas estão aprendendo Libras [Língua Brasileira de Sinais] para se comunicarem comigo e eu ensino Libras para eles se comunicarem melhor com as outras pessoas”, salienta Camila.

“Acredito que esse é só o começo de um lindo projeto onde podemos incentivar outras cooperativas e empresas a fazer a inclusão social de deficientes auditivos”, diz a gerente Cleide Moreno. Ela conta que hoje existem 40 funcionários terceirizados surdos no TJ, que também fazem parte do programa de inclusão do Judiciário, e Camila chega para qualificar ainda mais o atendimento a esse público e abrir caminhos dentro da instituição.

Inclusão

O ingresso da nova assistente faz parte de uma ação bem maior dentro do Sicoob União MT/MS. A analista de Governança e Sustentabilidade, Ana Flávia Sales de Quadros, explica que, após conversa com o Conselho e Diretoria da Cooperativa, foi decidida a realização de um curso de Libras para os empregados. “O projeto Sinais da Cooperação começou no dia 25 de setembro de 2020, com uma palestra via MOOB para os colaboradores, sensibilizando-os a respeito da importância da capacitação. O treinamento foi ofertado de forma 100% custeada pelo Sicoob União MT/MS”, destaca.

Segundo Ana Flávia, a procura superou as expectativas e, em conversa com a gerente da Agência Tribunal de Justiça/MT, Cleide Moreno de Alcântara, surgiu a ideia de melhorar ainda mais a inclusão contratando a primeira colaboradora surda. “A ideia foi levada ao assessor de Gestão de Pessoas, Frederico Augusto Ribeiro Pereira, que abraçou a causa e iniciou as negociações com a Diretoria Executiva. Assim o processo seletivo foi um sucesso e, no dia 8 de março, o sonho da inclusão tornou-se uma realidade com o início de uma nova jornada para Camila Penha Bortoleto, que com certeza tem muito a nos ensinar”, comemora a analista.

Mais conhecido como Freddy Treasure, o gestor de pessoas conta que os planos em relação a Camila são maiores. “Deixei claro que eu quero que ela realmente aprenda tudo de Sicoob e não seja apenas uma intérprete. Não quero que ela seja a pessoa que fique interpretando para que um outro assistente faça. Pelo contrário, é para chegar um surdo e ela dar 100% do atendimento. Estamos preparando-a para isso”, explica.

Além disso, há uma perspectiva de torná-la uma disseminadora de conhecimento tanto em relação à Libras como ao cooperativismo. “A ideia é fazer com que ela aprenda bastante e colocá-la para percorrer as agências e disseminar conhecimento. Nós realizamos muitas palestras sobre educação financeira, a ideia é de chegar a um ponto que ela não seja a pessoa que vai ser intérprete, mas que ela dê as palestras, ao lado de um intérprete para os ouvintes”, projeta o gestor.

A chegada de Camila ao Sicoob União MT/MS também entusiasmou a presidente Aifa Naomi. “No cooperativismo existe uma preocupação muito grande em dar oportunidades iguais às pessoas e respeitar a diversidade. Para nós é motivo de muita satisfação ter em nosso quadro uma pessoa com deficiência, que como qualquer ser humano merece toda chance para se colocar no mercado de trabalho”, lembra.

Reconhecendo que ainda há muito o que caminhar no mundo para que se chegue ao ideal de inclusão, Aifa considera que uma das melhores formas de contribuir nesse sentido é inspirar atitudes como as que o TJMT e o Sicoob União MT/MS estão realizando. “É necessário que demos esse exemplo, já que somos uma empresa que tem princípios todos voltados à pessoa, ao ser humano. Acredito que esse foi mais um passo nessa evolução e nós estamos muito felizes com essa contratação”, reforça a presidente.

A felicidade também é grande para a mãe de Camila, que enaltece a iniciativa da cooperativa. “Eu parabenizo demais a atitude do Sicoob. Sou muito grata mesmo. Que isso se multiplique para outros também. Que outras instituições e empresas sigam o exemplo, porque para o surdo é mais difícil ainda. Toda deficiência é difícil, mas o fato de não escutar restringe muito o campo de trabalho. Então, parabéns mesmo para o Sicoob e minha gratidão em nome de toda a família”, enaltece, emocionada, Cleide Bortoleto.

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