Uma equacão que funciona
Data: 17/02/2020 00:00
Autor: OCB
Como estão as suas finanças pessoais? Você consegue pagar as despesas fixas mensais? Sobra uma folga para gastar com lazer? Está poupando para quando deixar de trabalhar? A maioria dos brasileiros tem dificuldade para organizar bem o orçamento. De acordo com o Banco Central do Brasil, a taxa de endividamento das famílias voltou a crescer e alcançou 44,04%, em relação à renda acumulada em 12 meses em maio. É o maior nível desde abril de 2016. O dado, divulgado pela autarquia no início de agosto, é o mais recente disponível.
O cooperativismo é um modelo de negócio que estimula o empreendedorismo e a independência, mas essa equação só funciona bem se as finanças domésticas estiverem saudáveis. Pensando nisso, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e o Banco Central uniram-se para ajudar as pessoas a planejar o orçamento pessoal e familiar com o curso Gestão de Finanças Pessoais (GFP), disponível Gratuitamente desde 2016.
O curso traz estratégias para encaixar no orçamento desde as despesas básicas, como alimentação e moradia, até uma reserva para realizar os sonhos e uma poupança para se aposentar com dignidade. São cinco módulos sobre finanças:
1 – Consumo;
2 – Crédito e endividamento;
3 – Nossa relação com o dinheiro;
4 – Investimentos, seguros e aposentadoria;
5 – Orçamento pessoal e familiar.
Além disso, há um módulo sobre cooperativismo. “O conteúdo traz orientações sobre como definir opções de investimentos, como se preparar para a aposentadoria, como conversar com sua família sobre o melhor momento para comprar e o sobre o que comprar”, explica Geâne Ferreira, gerente de Desenvolvimento Social de Cooperativas do Sescoop. O aprendizado ocorre por meio da formação de facilitadores, ou seja, o Banco Central e as cooperativas formam pessoas que se tornam facilitadores e palestrantes encarregados de repassar esses conhecimentos adiante. Assim, a rede se torna cada vez maior e toda a comunidade é alcançada.
Geâne Ferreira destaca que a intenção ao criar a capacitação foi unir a expertise do Banco Central ao alcance das cooperativas espalhadas pelo país. “Eles [Banco Central] têm o know-how de trabalho com gestão de recursos e nós, a capilaridade. As cooperativas de crédito são, hoje, as nossas principais parceiras na execução do projeto, mas há cooperativas de outros ramos oferecendo o GFP”, informa.
Segundo a gerente, o curso e o conteúdo começaram a ser estruturados em 2013 e a formação de facilitadores teve início em 2016. Até o momento, foram finalizadas 23 turmas, totalizando 450 facilitadores. Esses “professores” já alcançaram 52.638 pessoas na ponta, com edições do curso, palestras e oficinas -- o GFP é flexível e o conteúdo pode ser adaptado para ser mais compacto.
Um total de 20 estados e o Distrito Federal tiveram ações realizadas pelos facilitadores. De acordo com Geâne Ferreira, a ideia de criação do curso nasceu da percepção de que a saúde financeira — tanto na esfera pessoal quanto na profissional — é uma só. “Para que a cooperativa vá bem, os cooperados precisam ter suas finanças pessoais em dia. Dessa forma, nós temos também cooperativas sustentáveis. Você tende a ter uma boa gestão de negócios.”
A gerente relata que os resultados em termos de comportamento após o curso são visíveis. “A gente tem relatos de pessoas que, depois que participam dos cursos, das oficinas ou palestras de educação financeira, dizem que têm outra visão. Passam a discutir as finanças com a família, definir prioridades, fazer poupança”, afirma.
- 23 turmas;
- 450 facilitadores formados;
- 52.638 pessoas alcançadas com oficinas, cursos e palestras;
- 20 estados e o Distrito Federal já tiveram ações de facilitadores.
Na Chapada Gaúcha, município de Minas Gerais com 10,7 mil habitantes, as escolas têm sido um dos principais canais de disseminação do conteúdo dos cursos de educação financeira. O pedagogo e facilitador Romildo José da Silva, do Sicoob Credichapada, formou-se na primeira turma do programa da cidade, em outubro de 2016.
“Foram 25 facilitadores de Chapada e Pintópolis, uma cidade próxima. Em outubro de 2017, formou-se a segunda turma. Hoje, temos 40 facilitadores capacitados e certificados pelo Sescoop e pelo Banco Central”, informa.
Como as escolas locais já tinham programas de educação cooperativista e empreendedorismo, elas foram o caminho natural para o curso de Gestão de Finanças Pessoais. “Como já tínhamos um programa com as escolas públicas, buscamos oferecer o curso aos professores. Uma questão que sempre discutimos é que, se o trabalho de educação financeira for feito com quem está em sala de aula, tem uma possibilidade muito maior de chegar à comunidade. O professor passa para o menino, e o menino chega em casa falando de educação financeira”, comenta.
Segundo Romildo, o curso começa com informações sobre o cooperativismo e, na sequência, são dados os cinco módulos de educação financeira. “Começamos com esse módulo para que as pessoas entendam o que é o cooperativismo e por que a cooperativa faz esse trabalho [de educação financeira]”, explica. Em geral, o curso para professores é realizado aos sábados.
Além do Sicoob Credichapada, a cidade tem a Cooperativa Agropecuária Pioneira (Cooapi), de produtores de semente de capim e soja, e a Cooperativa Sertão Veredas, de extrativismo de buriti, pequi e baru.
“Hoje, a gente continua capacitando professores, mas capacitamos também turmas de cooperados. Chega a acontecer de algumas pessoas formarem turmas e nos procurarem [querendo fazer o curso]. Atendemos, inclusive, pessoas que não têm relação com cooperativas. Há aquelas que, depois de fazer o curso, buscam esse vínculo. É muito comum ela vir e abrir uma conta, fazer uma aplicação financeira”, relata Romildo da Silva.
O curso de Gestão de Finanças Pessoais não é a única opção para quem quer aprender a poupar e investir na região de Chapada Gaúcha. Romildo da Silva destaca que as palestras também fazem sucesso. “Temos feito [a disseminação do conteúdo] também na modalidade palestra. Ela dura cerca de uma hora e atende bem a quem tem menos tempo. Houve um grupo no ano passado que, após fazermos a palestra, solicitou o curso completo.”
O Sistema Ailos, uma rede de 13 cooperativas de crédito nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, disponibiliza o curso Gestão de Finanças Pessoais a todos os seus cooperados e, ainda, a uma rede ampliada de familiares e funcionários. A Ailos também inovou ao disponibilizar o curso em uma plataforma de Educação a Distância (EaD) — acesse por meio do QR Code nesta página.
“Gravamos este ano em EaD e disponibilizamos na nossa plataforma de ensino. É uma versão gratuita”, explica Diogo Anderson Angioletti, analista de Relacionamento com Cooperados da Central Ailos, que fica em Blumenau, Santa Catarina.
Apesar de considerar o curso presencial mais completo, Diogo afirma que a EaD é uma boa alternativa para quem tem restrições de tempo e dificuldade de deslocamento. “O curso a distância é uma entrega de conhecimento, enquanto o presencial é mais maker, mais participativo”, comenta.
De 2017 a 2019, 5.980 cooperados e 1.438 pessoas que não tinham ligação com cooperativas participaram do curso presencial. Na plataforma EaD, 158 pessoas já fizeram o curso. De acordo com Diogo Angioleti, o Sistema Ailos também fecha parcerias para levar o GFP a entidades de classe, escolas e associações.
Angioleti relata uma experiência interessante durante a realização dos cursos: a discussão de educação financeira com grupos de casais. “Começamos a chamar nossos colaboradores com o cônjuge [para falar sobre educação financeira]. Os casais tinham a oportunidade de falar sobre sonhos e até de se descobrir. Teve um casal em que um gostava de praia e o outro, de campo, e eles ficaram discutindo o que fazer [com o dinheiro poupado]”, conta.
O sucesso do curso de gestão de finanças pessoais foi tanto que se transformou até em peça de teatro em Blumenau. “O Escultur, um grupo de teatro de cooperados nossos, produziu uma peça de forma autônoma usando o conteúdo do curso”, destaca.
Na avaliação do analista da Ailos, o curso é importante por tratar da cultura de poupar, um tema em que o brasileiro ainda está engatinhando. “Nós tivemos um momento de crescimento no passado e logo depois tivemos crise, dificuldade. As pessoas não aproveitaram esse momento de crescimento para poupar, só pensaram em consumir. A gente tem que educar para pensar no longo prazo. O brasileiro é muito imediatista. Pensa em termos de 15, 30 dias, quando deveria pensar no prazo de um ano, dois anos”, comenta.
Fonte: Revista Saber Cooperar
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